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by Arthur Arruda Leal Ferreira, Marcus Vinícius do Amaral Gama Santos, Mateus Thomaz Bayer, Raphael Thomas Pegden, Heliana De Barros Conde Rodrigues

Published in Mnemosine by Universidade de Estado do Rio de Janeiro.

2021   Volume 17

Abstract

Apresentação do Dossiê -  Biopolítica: a proliferação de um conceito raroO conceito de biopolítica tem sua estreia em 1974 em terras brasileiras, em conferência no Instituto de Medicina Social da UERJ (FOUCAULT, 1981 [1974]); desponta no início de 1976 em duplo nascimento, na conclusão da História da Sexualidade (FOUCAULT, 1988 [1976]) e do curso Em defesa da sociedade (2010 [1975-1976]) e praticamente desaparece no início de 1978 no curso Segurança, Território, População (FOUCAULT, 2006b [1977-1978]), tendo seu réquiem em 1979 no curso Nascimento da Biopolítica (FOUCAULT, 1997 [1979]; 2007 [1978-1979]). Apesar da sua curta existência e dos rápidos trânsitos de sentido em sua breve passagem, este conceito se tornou crucial nas diversas leituras que fazemos hoje em dia do legado de Foucault. Este conceito se tornou chave em vários domínios, sendo utilizado ainda nos dias de hoje por vários autores na abordagem dos mais variados fenômenos: da existência das ciências humanas e médicas, passando pela medicalização e chegando às pandemias recentes (para este último caso, cf. Tirado et alii, 2012; 2015).Cada vez mais em certos campos, como na Psicologia, é quase imediata a associação de Foucault ao conceito de biopolítica (seguramente tema dos mais diversos trabalhos e derivados). Ainda que a criação do neologismo não seja sua (de acordo com Esposito, 2011), é com este autor que o conceito tem seu máximo reconhecimento. Teses, dissertações, monografias e uma enorme quantidade de artigos, coletâneas e livros de comentadores carregam esse conceito como marco central do trabalho do pensador francês. Numa rápida consulta ao Google, ao acionarmos o item "Biopolítica", são disparados mais de 641000 resultados imediatos. Igualmente importantes são as apropriações pelas quais esse conceito passou com outros pensadores, como Gilles Deleuze (1992), Nikolas Rose (2011), Giorgio Agamben (2002), Peter Pal Pelbart (2003), Achille Mbembe (2018), Byung-Chul-Han (2018) e Roberto Esposito (2011): sociedade de controle, molecularidade, vida nua, biopotência, necropolítica, psicopolítica, bíos -  todos esses conceitos têm alguma derivação da proposta de biopolítica.Diante desta enorme expansão, o que dizer mais da biopolítica? O esforço aqui seria tentar ampliar ainda mais sua virtualidade, ao abrir outras leituras no campo da loucura (Raphael Pegden e os códigos penais no Brasil; Victoria Sedkowski e uma análise do Hospital Mental de Barcelona), de novos temas (o Self Científico com Diego Gonzales e Francisco Tirado; o Panoptismo de Gotham com Daniel Salvador e Iván Moreno Sanchez), na relação com interlocutores (Ricardo George e o diálogo com Hanna Arendt) e  no entendimento da própria biopolítica (Arthur Leal Ferreira e Marcus Vinícius Santos com o percurso temporal do conceito nos cursos e Mateus Bayer com a discussão de conceitos próximos entrelaçados, como os de guerra, transgressão e dissidência). Nesta proposta, o dossiê funcionaria como uma espécie de acordeom, ampliando o uso do conceito para outros campos (e produzindo derivas dele na sua extensão), mas favorecendo recolocações das suas próprias proposições, supondo-o mais raro, e estranho a qualquer definição mais pacífica e consensual (o efeito dicionário). É nestas provas que envolvem esta sístole e diástole que queríamos trazer discussões junto ao conceito. Provas a que o próprio Foucault o submeteu no trânsito deste em sua curta existência. Pois, como destaca Goldman, (2001), é neste aspecto estratégico e no calor das batalhas que devemos entender a produção dos conceitos foucaultianos, sempre em sintonia com as questões e lutas contemporâneas. É algo deste movimento estratégico que gostaríamos de trazer à cena neste dossiê.Arthur Arruda Leal Ferreira; Marcus Vinícius do Amaral Gama Santos; Mateus Thomaz Bayer; Raphael Thomas Pegden  ReferênciasAGAMBEN, G. Homo Sacer. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002. 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Obrigada pela parceria e amizade.Até breve, saúde.Heliana de Barros Conde Rodrigues
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